10 novembro 2005

Ideoplastia

"IDEOPLASTIA"
(Luiz Gonzaga Pinheiro)

Já existem provas reais de que o pensamento constrói e destrói, mes mo em nosso meio material. Não somente o nosso pensamento desenvolvido e consciente de homens, mas igualmente os instintos agressivos e direcionados dos animais podem forçar desarmonias físicas entre os semelhantes. Pesquisadores ingleses, com a finalidade de comprovar ou não o efeito do mau-olhado, fizeram a seguinte experiência: colocaram dóceis ratinhos de cidade bem próximos de ratos selvagens, muito embora, fora do alcance físico. Obstaculizados materialmente de agredir os ratinhos estranhos, os ratos selvagens realizaram atitudes de intimidação, enviando olhares agressivos e ameaçadores. Embora sem sofrer um simples arranhão, sem possibilidade de qualquer contato físico, os ratinhos urbanos acabaram por cair mortos. Submetidos a autópsias, os ratinhos assassinados com simples olhares mostravam glândulas supra-renais dilatadas, sinal evidente de violenta pressão nervosa emocional. O mau-olhado dos ratos selvagens contra os ratos da cidade provou que é possível a agressão através do simples olhar, quando este canaliza o ódio ou qualquer outro sentimento menos digno. E se em animais pequenos pode causar até a morte, em organismos mais evoluídos, tais como os humanos, pode causar uma série de contratempos que os estudiosos dos fluídos souberam identificar. Muitas vezes já ouvi falar de pessoas que matam plantas com o olhar e fazem adoecer crianças e até animais com seu fluido nocivo.
O estudo dos fluidos, a maneira como eles são direcionados pela força mental, suas relações com o perispírito e a influência moral comandando todo esse cenário, não deixam dúvidas quanto à possibilidade de ocorrência de tais fatos. Não é o simples olhar, aliado à mecânica do pensar, que impulsiona o fluido em uma direção qualquer? O ser humano é em essência aquilo que reside em seu coração. E sendo os olhos as janelas da alma, eles lançam do que lá existe, direcionando pela força do pensamento, sobre o que projetam. Sabemos que o fluido pode ser dirigido pelo pensamento ou como que aspirado por vontade firme. No caso a que nos reportamos, mau-olhado, uma criança, animal ou vegetal, não poderiam desejar absorver tais fluidos; resta-nos concluir que, consciente ou inconscientemente, o fluido foi dirigido do emissor por sua vontade ou à sua revelia. Mencionamos tais casos para que o leitor possa entender a importância do pensamento na modelagem do meio ambiente, como na própria estrutura anatômica-fisiológica do perispírito. Como o que é essencialmente bom nada tem de mau, quando pensamos no bem com intensidade, materializamos no meio externo (ambiente) e interno (perispírito) os efeitos do nosso pensamen to, que se fazem visíveis para aqueles que os sintonizem. Os bons pensamentos são portadores de luminosidade emanada do perispírito que a difundiu, sendo que esta interfere no ambiente em que foi gerada. Através dessa materialização do pensamento, dessas formas benéficas ou hostis modeladas, é que os Espíritos, observando os raios das cores formadas, a harmonia das formas e a lucidez do quadro gerado, determinam o grau de evolução ou de inferioridade daquele que modificou o ambiente com suas próprias criações.
O estado evolutivo do Espírito é também detectado mediante observação do seu perispírito, que apresentando características físicas, tais como cores, vestimenta, luminosidade ou obscuridade, materialidade maior ou menor, funciona qual cartão identificativo do seu padrão moral-intelectual.
No livro "A Vida Além do Véu", do Ver. G. Vale Owen, o autor pede a su a mãe um exemplo ilustrativo sobre o poder do pensamento, no que é atendido com a seguinte descrição: "Uma falange de amigos e eu, que estávamos sendo instruídos nesse assunto, encontramo-nos, e para conhecer o grau do nosso progresso, resolvemos fazer uma experiência para esse fim. Procuramos u ma clareira no centro de um belo bosque e, como prova, resolvemos todos desejar uma certa e determinada coisa para ver se conseguiríamos. Escolhemos a reprodução de um fenômeno em terreno descampado, cujo efeito fosse tão sólido e permanente que nos permitisse examiná-lo depois. Seria a estátua de um grande animal, mais ou menos como um elefante, porém, um pouco diferente; um animal que possuímos aqui, mas que deixou de habitar a sua terra. Todos nos sentamos em volta do terreno aberto e concentramos a nossa vontade no objeto que deveria ser reproduzido. Bem depressa ele apareceu e ficou ali diante de nós. Admiramo-nos muito da rapidez do resultado. Mas, debaixo do nosso ponto de vista, havia dois defeitos: era grande demais, pois haví amos deixado de combinar as nossas vontades na proporção adequada. Parecia muito mais com um animal vivo do que com uma estátua, porque muitos tinham pensado em um animal vivo, assim como na sua cor, e desse modo o resultado foi uma mistura de carne e pedra. Muitos pontos, também, estavam desproporcionais: a cabeça era grande demais e o corpo muito pequeno, e assim por diante, mostrando que maior força fora concentrada em algumas partes mais do que em outras. É assim que chegamos a conhecer as nossas imperfeições e a maneira de corrigi-las em nossos estudos. Ensaiamos, examinamos o resultado, e tornamos a experimentar. Assim fizemos agora. Desprendendo a nossa atenção da estátua obtida e conversando, ela pouco a pouco se desfez. Estávamos então preparados para nova experiência. Resolvemos não escolher o mesmo modelo, por isso, dessa vez escolhemos uma árvore com frutos, algum tanto parecida com uma laranjeira. Fomos mais felizes. O principal defeito era estarem alguns frutos maduros e outros verdes. As folhas não estavam convenientemente coloridas nem os galhos em proporção. Sucessivamente experimentamos um objeto após o outro, melhorando um pouco de cada vez. Imagine a alegria que reinava com tais estudos e as gargalhadas provocadas pelos nossos enganos."
Podemos dizer que a modelagem, a criação do ambiente espiritual com tudo quanto nele existe, é produto da criação mental dos Espíritos, que o fazem proporcionalmente a seu estado mental-moral-intelectual. O Espírito pode mentalizar uma flor e materializá-la no ambiente. Mas pode ser que esta seja apenas uma forma, sem a estrutura molecular e celular típica de uma flor. Apresente perfume, colorido e outros detalhes, mas, examinada por um técnico, este poderá constatar a ausência e elementos celulares funcionais, a inexistência dos gametas reprodutores e, mesmo existindo tais estruturas, a disposição genética, a informação que deveria constar em cada gene, não se apresente. Pode ocorrer também que a flor, sendo hermafrodita, ou seja, possuindo ambas as células reprodutoras, masculina e feminina, estas não tenham uma via de acesso para o encontro, dificultando a reprodução da espécie. Caso o construtor ou plasmador não tenha conhecimentos de Botânica, incorrerá em numerosas falhas, tais como: vasos condutores inadequados, fechamento de estigma, ausência do núcleo geratriz de pólen, e seriam tantos os desacertos que o técnico diria não tratar-se de uma flor o objeto em análise. O pensamento modela as formas com perfeição, beleza e utilidade, sempre obedecendo ao estado evolutivo de cada indivíduo. É por esse motivo que, para as grandes construções, grupos de Espíritos treinados para esse oficio, com a dignidade e a sapiência que a evolução lhes outorgou, se reú nem em somatório harmônico de pensamentos, no que materializam escolas, reformatórios, hospitais, colônias, como parte da divindade que Deus lhes permitiu atingir, por constante e crescente esforço próprio.
Igualmente, as entidades inferiores e brutalizadas, criam seus ambientes, plasmando neles o produto doentio de suas mentes, mesmo ignorando, como ocorre freqüentemente, serem os arquitetos do inferno onde habitam. A mente, conturbada por agentes nocivos, imprime no ambiente toda a deformação de que é portadora, no fenômeno da exteriorização daquilo que lhe é íntimo. O pensamento traumatizado do suicida, que tem gravado em si o ato final e trágico do suicídio, é reproduzido no ambiente com cores vivas, qual fita cinematográfica parada, tornando-se ele criador do quadro do suicida, um espectador desesperado do seu próprio infortúnio. Reunidos tais Espíritos pela lei da correspondência vibratória, cri am seus infernos, onde todos participam do sofrimento de todos, pois as cenas gravadas no espaço, dos diversos tipos de suicídio, mais os assustam e atemorizam. O mesmo acontece aos criminosos, aos avarentos, aos portadores de viciações várias.
Yvonne Pereira nos relata em seu livro "Devassando o Invisível" que visitara, em desdobramento, cerca de dez entidades em pequeno e miserável compartimento, em promiscuidade chocante. Essas entidades enfermas, conscientes de suas culpas, cercavam-se de visões por elas criadas no ambiente, que consistiam em lutas corporais, contendas, assaltos, seduções de menores, roubos, assassinatos, obsessões, suicídios.. .. O solo do compartimento apresentava-se encharcado de sangue e humores fétidos. Apesar de a porta permanecer aberta, não logravam a fuga, por ter de passar pelo terreno adiante, onde viam erguer-se da lama sanguinolenta mãos humanas súplices, cabeças desgrenhadas, olhos aterrorizados, cadáveres estirados, braços, pernas, enfim, uma visão macabra que nenhum filme de horror, por mais assustador, conseguiria exprimir com fidelidade. Uma velha negra que velava tais entidades, ao servir-lhes comida, repasto ornado de legumes e hortaliças, era tomada de imensa piedade, quando estes repudiavam os pratos, atirando-os à distância, no que choravam e se lamentavam. Por ação de suas mentes viciadas, abrigando as visões dos quadros deprimentes dos quais foram autores, ao olharem os pratos imprimiam neles as suas criações mentais de orelhas, línguas, olhos, corações, pés, postas de carne humana, em substituição aos legumes e hortaliças, criações mentais da velha guardiã. A médium, em conversação com a negra, ouve desta a seguinte afirmativa: "Todo o ambiente que distingues aqui, minha irmã, excetuando-se a cozinha, é criação mental vibratória destes dez criminosos". Ainda nesse livro, a médium, ouvindo do seu amigo Frederic Chopin, a execução de uma triste melodia no piano, assistiu maravilhada à modificação do ambiente, no que foi se transformando em árvores terrenas, estradas tristes, casario modesto, lembrando aldeia de padrão europeu. Ao descrever o evento, Yvonne Pereira diz: "Tão intensamente se impunha esse panorama à nossa perspectiva, que tivemos a sensação de caminhar por uma estrada que - tínhamos certeza - iria findar em local determinado". O Espírito Charles apressa-se em explicar-lhe que são paisagens da antiga Polônia, que Chopin gosta de recordar e reter, tornando-as presentes, aprofundando-se mentalmente pelo passado.
Do exposto, podemos concluir que:
1) O pensamento age sobre os fluidos, aglutinando-os, dispersando-os, dando-lhes formas, cores, funções e qualidades;
2) Ao agir sobre o meio, torna-se agente modelador das formas ambientais e do próprio perispírito (bem como de outros, qual ocorre no magnetismo e em particular no hipnotismo), de vez que este possui intensa plasticidade, obedecendo ao comando mental que o dirige;
3) Essa ação modeladora ocorre consciente ou inconscientemente, sendo que a duração daquilo que foi plasmado vai depender da persistência e da intensidade do pensamento;
4) A harmonia, a nitidez, a estética, a perfeição, a complexidade e a destinação do que é moldado dependem da evolução do Espírito que gerou pensamento;
5) As mentes desarmonizadas, trazendo remorsos, culpas, traumas, transmitem o teor do pensamento para o ambiente, no que geram regiões infernais, que persistem enquanto alimentadas;
6) Alguns amputados conservam após o desencarne suas amputações, por desconhecerem que poderiam reconstituir mentalmente seus perispíritos, ou por não possuírem condições mentais e/ou morais, para tal operação plástica;
7) O Espírito, a depender de sua evolução, pela ação do pensamento, pode fazer alimentos, vestimentas, habitações, utensílios, medicamentos e tudo quanto desejar, conquanto haja potência para tal em seu pensar e amor em seu coração.
Concluímos ainda que o Espírito é responsável pelo peso específico do seu perispírito. Viciando sua mente em pensamentos enfermiços, este se adensa sob a aderência dos fluidos tóxicos, canalizados ao longo dos anos ou das encarnações para a sua tessitura. Isso o fará demorar-se em regiões compatíveis com o seu estado, de onde só sairá quando, através de renovada atuação voltada para o bem, gradativamente se libere do lastro fluí dico que acumulou. É então que, desvencilhando-se da habitual inferioridade, vestir-se-á de luz e alçará às vastidões cósmicas, só penetráveis por aqueles cuja senha é a superioridade. Destes é que Jesus falava quando dizia "O Espírito sopra onde quer e vai aonde quer". O perispírito, portanto, não admite maquilagem outra para alindar-se senão a do amor, divino cosmético de beleza eterna.


[Do livro "O Perispírito e Suas Modelações - ARTIGOS]

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